GOYA no Masp




Desde sábado, e até o fim de maio, as 218 principais gravuras do extraordinário artista espanhol Francisco Goya y Lucientes encontram-se expostas no Masp. A experiência de observá-las em conjunto é inesquecível.


Semana que vem conto como foi....

Abaixo veja a resenha da revista Veja http://veja.abril.com.br

Raramente os velhos mestres europeus dedicaram à gravura todo o seu talento. Ela era uma arte "menor" – um apêndice da pintura. Francisco Goya y Lucientes (1746-1828) foi uma notável exceção. Antes dele, Dürer e Rembrandt já haviam demonstrado a enorme riqueza expressiva desse gênero. Goya deu um passo além. Ao longo da vida, ele produziu quatro grandes séries de gravuras: os Caprichos, os Desastres da Guerra, a Tauromaquia e os Disparates. Elas formam a parte mais pessoal de sua obra – aquela que não resultou de nenhuma encomenda ou obrigação oficial, mas do desejo puro e simples de criar. Cada série tem identidade própria. Ao mesmo tempo, um fio une todas elas. E é isso o que distingue Goya: como ninguém mais, ele empunhou o buril para explicitar uma visão de mundo. Desde sábado, e até o fim de maio, as 218 principais gravuras desse extraordinário artista espanhol encontram-se expostas no Masp, em São Paulo. A experiência de observá-las em conjunto é inesquecível.
Auto-retrato de Goya: olhar duro sobre os homens
A primeira série de gravuras produzida por Goya foi a dos Caprichos. São oitenta imagens, uma delas muito célebre. Trata-se daquela intitulada O Sono da Razão Produz Monstros, na qual um homem adormecido é acossado por corujas e morcegos, símbolos do obscurantismo. Por algum tempo, Goya planejou usar essa gravura como apresentação de todo o conjunto. Depois mudou de idéia e iniciou a série com um curioso auto-retrato em que aparece de perfil, olhando o mundo de soslaio. Poucas vezes um olhar tão duro e abrasivo foi lançado sobre os homens. Além de seres fantásticos como bruxas e duendes, as gravuras mostram "os vícios, extravagâncias e desacertos comuns a toda sociedade", conforme disse o artista ao anunciar a venda inicial dos Caprichos num diário de Madri, em fevereiro de 1799. A prostituição, os casamentos arranjados, a vaidade das mulheres, a hipocrisia do clero, a estupidez dos falsos sábios e a superstição dos tolos: esses são alguns dos males que Goya ridiculariza. Nem sempre é fácil decifrar o assunto de cada prancha. As legendas que as acompanham podem ajudar a resolver a charada, mas às vezes só aumentam o enigma. Pouco importa. A procissão de figuras grotescas é ininterrupta. É um horror que não varia, da mesma forma que acontece na série dos Disparates. Embora tenha sido desenhada trinta anos mais tarde, essa série guarda um claro parentesco com a dos Caprichos. Lá estão novamente os monstros e as deformidades, para castigar a tolice e a superstição.
Ao contrário do que ocorre nos dois casos anteriores, tanto a Tauromaquia quanto os Desastres da Guerra têm uma dose bem maior de realismo. Neles, a sátira e a fantasia dão lugar à violência como assunto principal. As quarenta pranchas sobre touradas são um tour de force de observação. Homens, touros e cavalos são retratados nas mais diversas posições: em repouso, em movimento ou com os músculos enovelados, prestes a iniciar um ataque ou uma fuga. Touros são atravessados por espadas e lanças e revidam com seus chifres, que rasgam os atacantes. A morte é a única constante na Tauromaquia – da mesma forma que ela reina sobre a Espanha nos Desastres da Guerra. Essa série de oitenta gravuras nasceu da invasão das tropas napoleônicas ao país de Goya, entre 1807 e 1814. Estupros, assassinatos e mutilações são sua matéria-prima. Não apenas os invasores são capazes de maldade. Atrocidades são cometidas de ambos os lados. Nos Desastres da Guerra, o recurso das legendas é utilizado de forma mais direta do que nos Caprichos ou nos Disparates. "Não se pode olhar", escreve Goya sob uma cena de fuzilamento. "Por quê?", pergunta o artista diante de um enforcado. Numa das gravuras mais perturbadoras do conjunto, um homem vomita sobre uma pilha de cadáveres. "Para isto vocês nasceram", diz a legenda.


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